28/10/2010

Puxo para mim esta cadeira, está na altura de te ouvir.

Nós queremos ser de aço, ferro inoxidável que embate contra o tempo e esfarela a sua arrogância. Mas fico-me pelos costados da noite a pensar que levei, já, tanto tombo e tanto pontapé, que pouca coisa me deixaria ajoelhado de dor.
Estamos sempre a aprender, tentando abraçar uma ausência e imaginando-a, refreando a mágoa da sua realização final.

Depois, percebo que é uma ficção. E que toneladas de livros e palavras têm o condão solitário de me deixar pior preparado.

É preciso ser valente, para se perder alguém sem perdermos algo nosso no caminho. Não sou valente, e, por isso, deixo pistas no caminho, alvitrando um regresso, reconstruir uma vida e mitigar a dor. Mentiras diáfanas, têmo-las todos. E caminhhamos sós, às vezes menos, mas regularmente sós. E a tristeza não amaina nunca.



Está na hora de ouvires o teu pai
Puxa para ti essa cadeira
Cada qual é que escolhe aonde vai
Hora-a-hora e durante a vida inteira

Podes ter uma luta que é só tua
Ou então ir e vir com as marés
Se perderes a direcção da lua
Olha a sombra que tens colada aos pés

Estou cansado. aceita o testemunho
Não tenho o teu caminho pra escrever
Tens que ser tu, com o teu próprio punho
Era isso o que te queria dizer

Sou uma metade do que era
Com mais outro tanto de cidade
Vou-me embora que o coração não espera
À procura da mais velha metade.

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