30/10/2010

We aren't perfect. That's why pencils have erasers.



A sala de espera do Hospital de Dia do Centro Hospitalar de Lisboa, EPE, Capuchos (o nome é tão estrondosamente longo, pomposo e empresarial que um incauto se arrisca a decepá-lo) é um local cavernoso. Encerra o pânico nas suas paredes sem eco. Forrada a linóleo, parece um poço sem fundo para quem aguarda; os olhares expectantes e as vidas esvaziadas que percorrem, de arrasto, aquele piso, destroem qualquer sensatez ou tirada mágica do livro de citações mais optimista.

Não sabia o que era pânico. Agora, sei-o. Mas também reconheço o seu carácter transitório. Que hiperventilamos, um alvéolo seguindo o outro, e a luz ao fundo do túnel, tremeluzente. Quando é um inimigo silencioso, o pânico arde; belisca a alma até nos remexermos na cadeira, tentando não dar conta da implosão aos olhos ausentes. E sublimamo-lo, com um suspiro, os pingos de suor na testa, o alívio e o presente, como uma bigorna, de novo a pender, lá do alto, como um cartoon Looney Tunes, que não poderá acabar bem.

Os caminhos longos e dolorosos têm o condão de nos tornarem densos. Aprimoramos os sentidos. E percebemos que o tempo não é escasso, ao passo que o afecto é. Congratulo-me por ter percebido isto a tempo; procuro explicá-lo, mas, de momento, não consigo, não a quem importa, para sarar uma ferida aberta que precisamos de estancar, de modo a que as memórias fugidias não nos fintem e se desvaneçam, como gostam.

Mas esse dia chegará, talvez. Que a perfeição nos há-de atingir no rabo, nesta era obcecada com a perfectibilidade. E, debaixo dos escombros, rir-nos-emos de escárnio e esperança - estaremos juntos nessa batalha e teremos percebido que as dimensões importantes são tão tangíveis como um raio de sol na cara, ao fim de uma tarde surda e outonal, depois de termos trocado um olhar cúmplice com uma desconhecida. Oxímoro? Talvez. Ou, proponho-te, a evidência de que há algo além do sucedâneo de amor com que nos conformámos, apegados que estamos às contas da vida.

Recupero a força de divagar. E espero que tu me possas perdoar. Que já te perdoei, há longo e ressequido tempo.

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