02/02/2011
O que quero? De verdade, assim verdadinha? Lembrar-me daquele rosto. De lhe saber as feições mesmo antes de observá-las.
O que quero? De verdade, assim verdadinha? Esquecer aquele rosto. Ser capaz de apagá-lo, de deslembrá-lo, de deixá-lo carcomido pela velocidade do mundo.
E tudo para o rosto e a voz e a mão que já não respinga na minha, soçobrando levemente. Porque eu quero e não quero esquecer, quero e não quero lembrar; julgo que é a minha alma que soçobra e sofre um sismo de epicentro ali bem no meio de mim. Eis que me acho dividido e não sei como não ser-sim ser. Se uma verdadinha ou uma mentirinha. Desejo sentir-me leve, mas não oco, feliz, mas não ligeiro. E toda essa ligeireza e leveza e fortaleza e torpeza me dão azo a esquecer. E, quando esqueço, dou por mim a escavar nos meandros da memória até achar um relembrete, para que possa tornar ao passado e sonhar passados distintos.
Quando irá isto terminar, afinal? Que eu não quero mais mentirinhas ou verdadinhas ou sismos contínuos. Queremos paz neste nosso cerne de universo, neste nosso poço de galáxias que não partilhamos levianamente. E tudo terminou e ficamos a pensar se terá mesmo acabado. E volta o turbilhão. E o rosto e a voz e a mão que respinga na minha ainda aqui ficam, mas não são os mesmos. Foi lindo, mas tornou-se irrespirável.
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