09/05/2013

fogo fátuo

temos sonhos
que (às vezes?) ardem - na bruma
temos dúvidas
e (às vezes?) crepitam - na noite
temos memórias
e (nunca?) tropeçam - no tempo
porque somos de sangue
feitos de sonhos e de bruma
clarões de dúvidas e de noite.

mas não somos de cinza
(ainda sabemos o horizonte)
mas não somos faúlhas
(ainda desfazemos o destino)
mas não somos fogueiras
(já não gravamos ilusões).

e temos florestas
que nos submergem
(somos seres antigos)
e somos pespontos nas estrelas
que nos trespassam o mundo
(somos ruínas de poemas),

porque persistimos e somos arestas
no fado reservado para as árvores
das florestas que temos
dos pespontos que somos,
das ilusões que não gravamos,
e esquecemos o céu
e implodimos em luz
e renascemos todos os dias
                em todas as ruas.

porque bastam agulhas
para que nos trespassem o peito
porque basta um gesto
para que nos afundem o mar
damos tudo (e somos tudo)
para que a perfeição nos ensombre
porque seremos engolidos pela sombra,
porque devemos arder
                                   para que algo renasça.

fogo fátuo e firme,
porque somos espelhos partidos
de maldições abjuradas;
porque nós não temos futuro,
mas encolhemos os ombros, um por um,
porque o fogo-fátuo
não carrega esperanças
                     (goradas).

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